Minuto do Agronegócio sobre Tráfego Controlado de Máquinas

Neste MINUTO DO AGRONEGÓCIO, temos a participação do Engenheiro Agrônomo, Gilvan Moisés Bertollo. Natural de Ajuricaba/RS,e graduado pela Universidade Federal de Santa Maria, Gilvan tem mestrado e doutorado pela mesma instituição. O assunto escolhido é Tráfego Controlado de Máquinas, tema abordado em sua tese de doutorado*.
Ouça mais essa dica do Minuto do Agronegócio, uma iniciativa da Itaimbé Máquinas.
>> Saiba mais sobre o tema na entrevista concedida <<
Itaimbé Máquinas: Por que você se interessou pelo tema “Tráfego Controlado”?
Gilvan Bertollo: Porque vejo muita máquina com alta tecnologia sendo pouco utilizada e muitos problemas relacionados ao seu uso inadequado que reflete em outros na atividade agrícola. Assim, me interessei pelo tráfego controlado, por ser uma técnica que utiliza as tecnologias que as máquinas nos oferecem, como sistema de orientação por satélite e piloto automático e, com pequenos ajustes e adaptações, permitir que trafeguem em locais específicos, possibilitando melhor desempenho delas no campo, seja na capacidade operacional, capacidade de tração, redução do consumo de combustível e emissões de gases poluentes, além de melhorias no solo, do qual dependemos de uma boa qualidade e estrutura agora e também para as futuras gerações.
Itaimbé: Quando esse tema começou a ser estudado e adotado por produtores?
Profº Gilvan: Este tema começou a ser estudado na Austrália na década de 80 por problemas de solo gerado pela intensa compactação provocada pelas máquinas.
Itaimbé: O que as pesquisas atuais dizem sobre esta estratégia?
Profº Gilvan: As pesquisas nos mostram que, concentrando o tráfego das máquinas em locais específicos, reduzimos a compactação do solo para menos de 20% da área (frente os mais de 45% do sistema tradicional) e com isso, se tem maior área de solo sem compactação para permitir infiltrar e armazenar maior quantidade de água, além de proporcionar melhor desenvolvimento radicular. Na atuação das máquinas, as pesquisas nos mostram que quando as máquinas trafegam em locais mais compactados (linhas de tráfego) possuem melhor capacidade de tração, menor patinamento das rodas motrizes, menor exigência de potência para tracionar implementos e, com isso, reduz também o consumo de combustível e emissão dos gases poluentes.
Itaimbé: Existem números oficiais sobre a taxa de adoção da técnica por produtores brasileiros e/ou americanos?
Profº Gilvan: Números oficiais não se tem por ser uma técnica nova no Brasil. O que se sabe é que, na cultura da cana, pelo fato da mesma permanecer na área por mais de 5 anos e sofrer com o rebrote caso aconteça a passagem do pneu da máquina, utiliza-se em praticamente todas as áreas o controle do tráfego para preservar as plantas. Nas áreas de cultivo das outras culturas, essa técnica está sendo implantada em algumas propriedades. No RS, conheço apenas uma.
Itaimbé: Quais os produtores/culturas que mais se beneficiam do tráfego controlado?
Profº Gilvan: Todas as culturas são beneficiadas, pois terão maior área livre de compactação para o desenvolvimento radicular e por consequência de toda a planta. No entanto, pelo fato da cultura da cana permanecer na área por mais de um ano, é ainda mais beneficiada pois a parte aérea também ganha caso não sofra com o tráfego da máquina. Nas demais culturas, a parte aérea sofre com o tráfego do pulverizador quando a passagem acontece com a cultura já implantada. Na adoção do tráfego controlado, as linhas por onde passa o pulverizador podem ser retiradas e, neste caso, não se perde com sementes que não vão gerar plantas viáveis e favorece aquelas das linhas adjacentes ocupar esse espaço. Com redução de custos e ganhos em produção e operacionalidade, o produtor que adota essa técnica, também tem benefícios.
Itaimbé: Quais os primeiros passos para adoção do tráfego controlado?
Profº Gilvan: É necessário, inicialmente, padronizar para que as máquinas trafeguem uma no rastro da outra, para isso, é necessário ajustar a bitola dos rodados das máquinas para que fiquem homogêneos, ou seja, a bitola do pulverizador, colhedora e tratores que trafegam na área devem possuir as mesmas medidas ou o mais próximo possível para reduzir a largura de atuação dos pneus e permitir que ocupem o mesmo rastro. Também, é necessário ajustar a largura da plataforma da colhedora, barras do pulverizador e largura da semeadora para organizar as linhas de tráfego. Um exemplo seria uma colhedora com plataforma de 30 pés (9,12 m), pulverizador de 27 m de barra e semeadora de 18 linhas de espaçamento 50 cm (9 m). Desta forma, onde trafega o trator na semeadura, vai trafegar a colhedora na colheita e, a cada três passagem destas máquinas, o pulverizador trafega na linha central.
*Engenheiro Agrônomo, graduado pela Universidade Federal de Santa Maria – UFSM, Mestre em Agronomia pelo Programa de Pós-Graduação em Agronomia: Agricultura e Ambiente – UFSM. Doutor em Engenharia Agrícola pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia Agrícola – UFSM. Foi professor substituto do Departamento de Engenharia Florestal ministrando as disciplinas de Desenho Técnico, Construções Rurais, Estruturas e Construções em Madeira e Irrigação e Drenagem nos cursos de Agronomia, Engenharia Florestal e Engenharia Ambiental. Atuou em pesquisas no Laboratório de Agrotecnologia do Núcleo de Ensaio de Máquinas Agrícolas – NEMA – UFSM. Atualmente é professor no Departamento de Estudos Agrários da UNIJUI, ministrando as disciplinas de Máquinas e mecanização agrícola, Irrigação e drenagem, Construções Rurais, Topografia agrícola e Hidráulica agrícola para o curso de Agronomia.